Reflexão
"No
que se refere à capoeira angola, eu tenho visto muito movimento sem
pensamento. Jogos sem conexão, conexão com o outro e com a bateria. A
galera tá muito apressada, dando pernada de qualquer jeito. Cadê a
dança? cadê a mandinga? cadê o jogo pensado? A bateria tá num tom e os
"malandros" estão três tons acima.
Escutar os mais velhos
falando ninguém quer mais. Claro que tem uns que falam a mesma coisa
durante horas, aí ninguém aguenta! Mas faz parte.
Com algumas exceções, eu percebo que a rapaziada só quer suar. Só é
capoeira quando tem rabo de arraia e bananeira. Que pena. Uma palavra
muda a nossa visão de mundo.
Pense na seguinte questão: qual
foi a última vez que você sentou com o seu mestre ou com alguém mais
velho que esteja próximo de você, conversou sobre capoeira e chegou em
casa refletindo sobre o que foi falado?
Não sei como é que
alguém pode achar que aprende capoeira simplesmente entrando numa sala,
fazendo um monte de movimentos e indo embora pra casa sem que haja uma
reflexão do que está sendo feito e o porquê de ser feito. Isso pra mim
tem outro nome: ginástica.
A capoeira nos coloca próximos a
elementos diversos, nos reconecta com questões muitas vezes esquecidas, e
ainda assim você só quer saber de se movimentar? O movimento só vai ter
sentido quando o capoeirista se conecta a esses elementos, quando as
situações da roda são contextualizadas com o dia-a-dia, ou seja, o micro
passa a ser o macro e vice-versa. É difícil fazer isso? Sim. Por isso,
mais do que qualquer coisa, é preciso ter atenção e paciência."