29 de mai. de 2012

Reflexão

"No que se refere à capoeira angola, eu tenho visto muito movimento sem pensamento. Jogos sem conexão, conexão com o outro e com a bateria. A galera tá muito apressada, dando pernada de qualquer jeito. Cadê a dança? cadê a mandinga? cadê o jogo pensado? A bateria tá num tom e os "malandros" estão três tons acima.

Escutar os mais velhos falando ninguém quer mais. Claro que tem uns que falam a mesma coisa durante horas, aí ninguém aguenta! Mas faz parte.


Com algumas exceções, eu percebo que a rapaziada só quer suar. Só é capoeira quando tem rabo de arraia e bananeira. Que pena. Uma palavra muda a nossa visão de mundo.

Pense na seguinte questão: qual foi a última vez que você sentou com o seu mestre ou com alguém mais velho que esteja próximo de você, conversou sobre capoeira e chegou em casa refletindo sobre o que foi falado?


Não sei como é que alguém pode achar que aprende capoeira simplesmente entrando numa sala, fazendo um monte de movimentos e indo embora pra casa sem que haja uma reflexão do que está sendo feito e o porquê de ser feito. Isso pra mim tem outro nome: ginástica.


A capoeira nos coloca próximos a elementos diversos, nos reconecta com questões muitas vezes esquecidas, e ainda assim você só quer saber de se movimentar? O movimento só vai ter sentido quando o capoeirista se conecta a esses elementos, quando as situações da roda são contextualizadas com o dia-a-dia, ou seja, o micro passa a ser o macro e vice-versa. É difícil fazer isso? Sim. Por isso, mais do que qualquer coisa, é preciso ter atenção e paciência."

23 de abr. de 2012

Tradições e suas recriações.

Tradição é algo criado por um, repetido por outro e passado pra muitos, e quando pega, vai de geração para geração....Ou seja, todas as tradições são criadas, mas podem ser recriadas. Fui a uma roda no último fim de semana e ouvi o seguinte corrido(que é um samba de roda, se eu não estiver enganado):

"Se essa mulher fosse minha
Eu tirava da roda já, já
Dava uma surra nela
Que ela gritava, chega!"


Perdoem-me, mas falta um pouco de esclarecimento para alguns capoeiristas. Consigo relativizar essa postura vinda de pessoas de idade bem avançada, não concordo, mas compreendo aqueles que viveram numa época diferente da que vivo hoje. Agora, mestres e alunos novos não devem dar continuidade a esse processo. A mulher é um elemento de suma importância dentro e fora da capoeira, e com muita seriedade e dedicação vêm conquistando espaço nessa cultura. Mesmo que não seja num sentido literal, é importante estarmos atentos ao que é continuado. Acredito que determinadas músicas são desnecessárias atualmente, mas que dentro dos grupos devem ser ensinadas visando uma reflexão coletiva, principalmente pra quem chega e encontra um terreno mais "tranquilo".

Dou um desconto para aqueles que ainda não foram levados a refletir sobre o assunto, mas me sinto na obrigação de fazer com que essa e outras pessoas olhem essa questão por um outro ângulo. Não quero convencer ninguém, apenas sugiro um outro olhar, um olhar que faz do capoeirista um ser pensante dentro e fora da roda.

A capoeira, pelo menos pra mim, representa uma ferramenta de desenvolvimentos, de elevação do pensamento e ação humana. Uma mente elevada não pode corroborar com ações que desvalorizem o ser humano e todo o seu entorno.

"Infringir a tradição também é uma tradição." (Alexandre Blok)