Não sabemos ao certo quando o canto foi introduzido na capoeira. Contudo, nas manifestações afro-descendentes, cantar é dar continuidade a um processo que remete aos antepassados.
Da mesma forma que o ritmo no candomblé coordena os passos do orixá, na capoeira não é diferente. Cabe ao ritmo dar o tom do jogo. E normalmente os jogadores “vadeiam” atentos ao que a bateria pede.
A música tem o poder de encantar e fazer com que a roda se contagie, e isso influi diretamente no jogo. Do cantador se espera a capacidade de entender o momento certo de fazer a roda “subir” ou “descer”. Ou seja, cantadores versados conseguem cantar o jogo, aumentando ainda mais a relação canto, jogador e jogo.
Os instrumentos: berimbau, pandeiro, agogô, reco-reco e atabaque, quando bem tocados, facilitam essa relação. É importante lembrar que a consciência do papel que cada tocador deve desenvolver durante a roda é que irá ajudar no crescimento do todo, e isso chamamos de harmonia. A harmonia da bateria reflete diretamente no jogar. Com isso, chegamos à conclusão de que, dentro da capoeira, não há dissociação entre movimento e música, os dois são um só.
Nessa apostila, atentaremos para os cantos antigos, que vem perdendo espaço para novas músicas. Entendemos que a capoeira é uma cultura dinâmica e está em constante transformação. No entanto, essa cultura se alimenta diretamente do passado, e encontra nele os subsídios para construir um presente melhor e congruente com os ensinamentos deixados pelos mais velhos.
Ladainha
Canto inicial, que possui um tom lento(chorado). É precedido de um grito: “Iê”. Esse grito é o sinal de que a roda vai começar. Agachados ao pé do berimbau, os jogadores escutam atentamente ao que está sendo cantado.
Maria
Essa história vem de longe
Lá das bandas do sertão
Em meio de tanta guerra
Existiu uma paixão
Ela é Maria Bonita
Maria de Lampião
Seu amor foi como faca
Foi fundo no coração
Lampião homem danado
Dela foi o protetor
Mas na guerra do cangaço
Maria também lutou
Maria foi grande exemplo
Do que é o verdadeiro amor
Minha mão chama Maria
Foi ela quem me criou.
Autor: Leandro Bicicleta
Louvação
Canto que vem após a ladainha. Consiste em chamadas(cantador) e respostas(côro), onde vários elementos são exaltados. Também não se joga nessa fase do canto.
Iê viva meu mestre
Iê viva meu mestre, camará.
Iê quem me ensinou
Iê quem me ensinou, camará
Iê volta do mundo
Iê volta do mundo, camará
Iê galo cantou
Iê galo cantou, camará
Corrido
Canto que vem após a louvação. Consiste em chamadas(cantador) e respostas(côro), onde há diversos improvisos. Quando cantado, é o sinal de que os jogadores podem iniciar a movimentação.
Sai, sai, Catarina
Saia do mar venha ver Idalina
Sai, sai, Catarina
Vem correndo pra ver as meninas
Sai, sai, Catarina
Jogo de angola é pra baixo e pra cima
Ladainhas diversas
Eu vou ler o B-A-Bá
B-A-Bá do Berimbau
a moeda e o arame
com dois pedaçoes de pau
a cabaça e o caxixi
aí está o berimbau
Berimbau é um instrumento
que toca numa corda só
vai tocar São Bento Grande
toca Angola em tom maior
agora acabei de crer
o Berimbau é o maior
B-A-Bá do Berimbau
a moeda e o arame
com dois pedaçoes de pau
a cabaça e o caxixi
aí está o berimbau
Berimbau é um instrumento
que toca numa corda só
vai tocar São Bento Grande
toca Angola em tom maior
agora acabei de crer
o Berimbau é o maior
Sou filho da cobra verde
Sou filho da cobra verde
Neto da cobra coral
Quem quiser saber meu nome
Meu veneno é de matar
Valha-me Deus Nossa Senhora
Mãe de Deus o Criador
Nossa Senhora me ajude
Nosso Senhor me ajudou
Sou filho da cobra verde
Neto da cobra coral
Quem quiser saber meu nome
Meu veneno é de matar
Valha-me Deus Nossa Senhora
Mãe de Deus o Criador
Nossa Senhora me ajude
Nosso Senhor me ajudou
Tamanho não é documento
isso eu vou lhe provar
Meu mestre bateu de sola
Num crioulo de assombrar
Apesar de muito baixo
nunca levou prejuízo
Ele disse pro Diabo
De ajuda não preciso
Essa peleja se deu
na Ladeira da Lapinha
Entre o Diabo malvado
E o meu Mestre Pastinha
Essa história meu colega
Ele contou prá mim
No lugar que eles brigaram
nunca mais cresceu capim
isso eu vou lhe provar
Meu mestre bateu de sola
Num crioulo de assombrar
Apesar de muito baixo
nunca levou prejuízo
Ele disse pro Diabo
De ajuda não preciso
Essa peleja se deu
na Ladeira da Lapinha
Entre o Diabo malvado
E o meu Mestre Pastinha
Essa história meu colega
Ele contou prá mim
No lugar que eles brigaram
nunca mais cresceu capim
Na Ladeira do Tengó
Passa o boi o carro chia
Delata torna amarrar
Os cabelos de Maria
Oração do braço forte
Oração de Sao Mateus
Na hora do meio dia
Quem pode comigo é Deus
Passa o boi o carro chia
Delata torna amarrar
Os cabelos de Maria
Oração do braço forte
Oração de Sao Mateus
Na hora do meio dia
Quem pode comigo é Deus
Maior é Deus
Maior é Deus
Pequeno sou eu
Tudo que eu tenho
Foi Deus que me deu
Na roda da capoeira
Grande pequeno sou eu, Camara
Corridos diversos
Apanha a laranja no chão Tico-Tico (côro)
Se meu amor for embora eu não fico
Se meu amor for embora eu não fico
Apanha a laranja no chão tico-tico
Apanha com a mão, com o pé ou com o bico
Apanha laranja no chão tico-tico
A saia dela é de renda é de bico
Jogo de dentro, jogo de fora (côro)
Jogo bonito esse jogo de angola
Jogo bonito esse jogo de angola
Jogo de dentro, jogo de fora
Jogo manhoso esse jogo de Angola
Jogo de dentro, jogo de fora
Valha-me Deus, salve Nossa Senhora
Vai você, vai você (côro)
Dona Maria, como vai você?
Dona Maria, como vai você?
Vai você, vai você
Joga bonito que a gente quer ver
Vai você, vai você
Jogo manhoso é que eu quero ver
Dona Maria do Camboatá (côro)
Chega na venda e manda botá
Chega na venda e manda botá
Dona Maria do Camboatá
Ela chega na roda e começa a jogar
Dona Maria do camboatá
Se tiver tudo errado ela manda parar
Dona Maria do Camboatá
É do camboatá, é do Camboatá
Vou dizer ao meu sinhô
Que a manteiga derramou (côro)
A manteiga não é minha
Que a manteiga derramou (côro)
A manteiga não é minha
A manteiga é de Ioiô
Vou dizer ao meu sinhô
Que a manteiga derramou
Que a manteiga derramou
A manteiga do patrão
Caiu no chão, derramou
Vou dizer ao meu sinhô
Que a manteiga derramou
Que a manteiga derramou
Pé de lima, Pé de limão
O amor é meu tão dizendo que não (côro)
O amor é meu tão dizendo que não
Olha lá pé de lima, pé de limão
Pé de lima, Pé de limão
O amor é meu tão dizendo que não
Olha eu digo que sim, ela me diz que não
Olha lá pé de lima, pé de limão
Vou vender côco, Sinhá (côro)
O côco maduro vem do Paraná
Vou vender côco, Sinhá
O côco maduro tu pode ralar
Vou vender côco, Sinhá
Vou vender pra Ioiô, vou vender pra Iaiá